quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Ataque Microbiano Remedias Àreas Contaminadas




Cresce o uso de aditivos de bactérias e fungos para tratar efluentes e biorremediar solos.


Longe de ser enredo de um filme B de ficção científica, o incremento em laboratório de bactérias e fungos, com o fim de aumentar seus poderes de biodegradação, já é uma realidade no mundo e começa a se desenvolver com rapidez no Brasil. Usadas em estações de tratamento de efluentes para aperfeiçoar a etapa biológica, mas também indicadas para projetos de biorremediação de solos contaminados, essas colônias microbianas são cada vez mais comercializadas. Principalmente empresas importadoras, como Micro-Bac, Bio-Brasil e BioClean, vendem esses aditivos biológicos sobretudo para uso em tratamento de efluentes, de forma crescente, desde o início dos anos 90. Alguns fatores tornam as perspectivas desse segmento ainda mais promissoras. Para começar, o País já conta com produção local das formulações de microrganismos. Uma empresa de Sorocaba-SP (Hábil Química), depois de dois anos de estudos, iniciou-se nesse mercado em 2000, ofertando produtos a custos menores do que os de seus concorrentes importadores. Outro aspecto de suma importância é a pesquisa nacional, em instituições renomadas como o Instituto de Botânica de São Paulo e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estar desenvolvendo projetos de biorremediação de solos com bactérias e fungos. Essas pesquisas resultarão no futuro em licenciamentos tecnológicos para outras empresas nacionais iniciarem novas produções.


Na verdade, tanto a produção como a pesquisa nacional demonstram apenas um esforço em reduzir o atraso do Brasil em comparação aos países desenvolvidos. Não há muito como esperar muitas inovações locais, visto o elevado grau de desenvolvimento dessas tecnologias no mundo. Empresas americanas e européias produzem dessas formulações há mais de 30 anos e, pelo lado da pesquisa, a literatura científica internacional já conhece as famílias de microrganismos e os principais poluentes orgânicos e alguns inorgânicos que elas podem degradar. Portanto, o mérito das iniciativas brasileiras está mais na nacionalização tecnológica.Aditivos nacionais – O caminho percorrido pela Hábil Química para constituir sua linha de aditivos demonstra bem esse esforço nacional. Mesmo existindo em livros de microbiologia boa parte das informações necessárias para se saber qual bactéria ou fungo tem facilidade para degradar determinado tipo de contaminante, a empresa precisou de paciência para chegar às suas formulações de bactérias, fungos e também protozoários. Isso porque o know-how de produção e de aplicação dos aditivos depende muito de uma experiência de campo e de pesquisa aplicada que a empresa não possuía. Grandes empresas estrangeiras, como as americanas Micro-Bac e BioSystems, detêm essa massa crítica, mas logicamente a escondem a sete chaves.


Nesse aspecto, ninguém melhor do que a gerente de meio ambiente da Hábil Química, Gilza Minatel, para confirmar essa dificuldade em conhecer os principais segredos tecnológicos. Ex-técnica da também ex-representante da Micro-Bac no Brasil (agora a multinacional possui subsidiária brasileira), Gilza diz que a empresa americana tinha muita relutância em revelar os principais detalhes das formulações para os técnicos da representação. “Nós apenas aplicávamos o grade específico para o tipo de contaminante orgânico do efluente e sequer sabíamos quais eram as cepas contidas na formulação”, informa. Isso, segundo ela, dificultava a solução de possíveis problemas futuros de aplicação.

Gilza selecionou microrganismos locais


Essa desconfiança da Micro-Bac, porém, não desanimou os planos da bióloga. Após sair da empresa na metade da década de 90, juntou seu conhecimento de aplicação adquirido por esforço próprio com incursões em pesquisas em universidades, para começar a montar a base da divisão de biotecnologia da Hábil Química em 1998. Além de se valer do conhecimento científico existente de microrganismos, a técnica partiu para selecionamentos contínuos em laboratório a fim de separar as melhores bactérias, fungos ou protozoários nacionais para serem multiplicados e depois aplicados.


O procedimento começa com a coleta de amostras dos efluentes para identificação, em laboratório externo, de todos os microrganismos presentes. A etapa seguinte será solicitar o isolamento das colônias degradadoras. De forma geral, apenas 10% terá capacidade de mineralização, ou seja, de degradação total, ao utilizar o poluente como fonte de carbono e energia e a partir daí assimilando-o até transformá-lo em gás carbônico, água e sais. Segundo Gilza Minatel, as selecionadas são cepas facultativas (anaeróbicas e aeróbicas) e já conhecidas na literatura como degradadoras dos contaminantes orgânicos.


A seguir, no laboratório da Hábil são promovidos ensaios para conhecer os mais efetivos na metabolização, sobrando cerca de dez a 18 cepas para cada formulação. Faz parte desse processo saber quais nutrientes devem ser agregados para manter as cepas em equilíbrio e, sobretudo, a bioaumentação, uma fase de multiplicação das bactérias com nutrição em pés de cuba. Depois de multiplicadas, elas são liofilizadas, para se manterem em dormência, e acrescentadas a nutrientes, sacarose e nitrogênio (meios de propagação). Seu veículo para a aplicação é o amido de milho, onde as cepas ficam “adormecidas” e apenas são ativadas em contato com a água.


As formulações, baseadas principalmente nos gêneros Mycobacterium, Anhtrobacter, Nocardia, Bacillus e Aspergillus, estão sendo aplicadas para remoção de orgânicos em efluentes industriais e em caixas de gordura, fossas sépticas e esgotos de restaurantes, shoppings e prédios. Na aplicação em estações são dosadas em lagoas de aeração ou para incrementar lodo ativado no tratamento biológico. De acordo com a gerente da Hábil, os produtos aumentam a eficiência de depuração orgânica para até 97%.


Com clientes como Ambev, Sadia, Seara, OPP e Laboratório White, em um ano a empresa conseguiu atingir um patamar de vendas de 6 t/mês desses agentes biológicos, faturando em sua divisão de biotecnologia R$ 400 mil mensais. Para Gilza, a razão principal do rápido sucesso é o maior rendimento de seus produtos em comparação com similares importados. Mesmo dentro do preço médio do mercado de R$ 90,00 o quilo, a gerente considera seus aditivos até vinte vezes mais concentrados de mircrorganismos.


Escrito por Marcelo Rijo Furtado

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